Eu não devia estar fazendo isso...
Estou com vários trabalhos atrasados, uma monografia que eu deveria estar revisando em lugar de (mal) escrevendo e muito pouca paciência. E mesmo assim comecei a leitura de um romance. Me questiono sobre a sabedoria disso. Para piorar as coisas, aí vem Carnaval - A Estação Anual da Desgraça Imprevista.
Se, como o protagonista de A Ilha do Dia Anterior (Umberto Eco), eu estivesse isolado do mundo eu conseguiria escrever? Ou melhor, conseguiria escrever o que eu tenho que escrever, em lugar de ficar compondo cartas que nunca serão entregues na minha cabeça? Ou ficaria pensando sobre a minha miséria e recordando tempos melhores? Não que as coisas estejam tão ruins assim, mas a tendência de que piorem é forte.
Apesar da culpa, o livro vai bem. A situação do protagonista é fantástica: ele está sozinho em um navio encalhado a pouco mais de um quilometro de uma costa que ele não sabe qual é, após ter sofrido um naufrágio. Mas ele não sabe nadar e não pode explorar a ilha (se é uma ilha), se limitando ao navio.
Eco - numa prosa bem diferente de Baudolino e O Pêndulo de Foucault - alterna os episódios do navio com as memórias de Roberto numa das muitas guerras territoriais da Europa do Século XVII - época em que ele mais ou menos acreditava ser assombrado por um gêmeo maligno.